Top Hat Chronicles: Stories - O Autocarro

 Top Hat Chronicles



























O Autocarro



A água dos lagos refletia a luz da grande estrela, dizendo: 7:16 da manhã.

Longe desse hidro-espelho encontrava-se um veículo público a fazer a sua carreira diária à volta de uma vila.

Os travões do autocarro põem-se a trabalhar tornando a velocidade do veículo nula, à frente de uma paragem as pessoas esperam a abertura da porta, que faz o que querem deixando-as entrar.

O algarismo respetivo à velocidade do autocarro aumenta novamente. O autocarro para mais à frente ao lado de um café com gente familiar na esplanada, não resiste em acenar. O grande veículo parte novamente em frente. O autocarro estava a andar agora no centro da vila que estava estranhamente deserta.

Mais à frente é forçado a parar novamente pela palavra Stop que reluzia a vermelho num ecrã no interior do veiculo, uma alma presa dentro de um saco de carne sai do autocarro a beber água, mas passado uns 2 segundos a pessoa cai no chão (como se tivesse perdido a força em todos os seus músculos).

As outras almas aprisionadas olham com espanto e terror para o corpo deitado no chão, até que uma pessoa decide ajudar e vai lá fora para ver o que se passava. Mas, para o espanto de todos os que viam, a mulher sofre o mesmo problema e cai no chão. Uma outra pessoa nota que o líquido dentro da garrafa que o homem segurava antes de cair (e que estava agora no chão) estava a tornar-se em vapor subitamente e a ir em direção ao céu como as almas dos mortos.


- A água, está a evaporar-se! - As pessoas reparam todas no pequeno pormenor com espanto e confusão.


- Será uma onda de calor? - sussurra uma passageira à sua amiga.

- Assim tão potente?? Impossível!


As pessoas atrás ouviram e iniciaram as suas próprias conversas.

Um dos passageiros lembra-se de telefonar aos serviços de emergência, mas após terem esperado 30 minutos nada aconteceu. O motorista disse que tinha de continuar a carreira, mas algumas almas preocupadas descordaram por completo…


- Então e vai deixar as pobres pessoas ali no chão??!


- Minha senhora, já fiz tudo o que tinha a fazer, peço imensa desculpa, mas tenho um trabalho a fazer.


- Espero que durma bem à noite - disse a alma velha com rudeza, pondo fim à discussão.


O autocarro prosseguiu, mas desta vez não existiam conversas paralelas, não existia vontade; existia apenas medo, estranheza e a ausência da vontade de falar com quem quer que seja. Cada um estava ainda a tentar processar nos seus pequenos cérebros o que tinha acabado de acontecer. Dentro da vagem-sobre-rodas espreitava-se para o exterior com curiosidade e podia-se ver os lindos hidro-espelhos a partirem para o céu numa nuvem branca.


- Olha olha!, vez como é uma onda de calor, porque outra razão haveria de o lago evaporar!


- Não sejas ridícula! Nenhuma onda de calor poderia ser assim tão forte! Deve ser uma experiência da Universidade de Ciências mesmo ali ao lado.


Apesar de toda esta confusão entre passageiros e amigos, o motorista continuava a cumprir a sua função, assim como os semáforos; onde o autocarro foi forçado novamente a parar por uma luz vermelha. Uma luz que parecia ser eterna, nunca mais reluzia a luz da esperança, nunca mais davam permissão para o 

autocarro fazer a sua caminhada diária. A alma ao volante começa a sentir as pálpebras a pesarem-lhe em cima dos olhos, a cabeça a cair-lhe em cima como se não houvesse um pescoço, como um avião a fazer uma aterragem de emergência no aeroporto no meio do oceano. O avião aterra e as pálpebras esmagam os olhos do saco de carne. Começa a sonhar algo, uma casa com um teto, mas sem paredes construída por ninguém, ou se calhar um braço sem corpo que agarra na sua mão com uma garrafa de água semi-vazia. O Tling que o stop faz quando se carrega no botão para parar, acorda-o subitamente, já estava verde, o autocarro pôde finalmente seguir viagem pelas ruas desertas, passando pelos restaurantes familiares agora vazios; O motorista olha para trás, mas não vê ninguém, não havia passageiros dentro do autocarro, apenas sofás rotos, o camionista olha para frente e depara-se com um poste.

O homem ao volante abre os olhos e vê um semáforo verde a reluzir em sua frente, pelos vistos ainda estava a sonhar, olha para trás e vê as pessoas que era suposto ver, uma velha, um velho e duas mulheres e três homens na meia-idade. Olha em frente e acelera, no retrovisor nada existia, a não ser uma poeira cor de areia e terra que cobria a rua totalmente. A ervilha que conduz a grande vagem começava a assustar-se com toda esta confusão.

Mais à frente a espécie de nevoeiro de poeiras começa a mover-se a velocidades inacreditáveis, o autocarro até estava a abanar com a força do vento. O autocarro de tanto abanar, faz com que o condutor se veja obrigado a esconder o autocarro debaixo de uma pequena ponte para se abrigar de árvores que podiam voar em direção aos passageiros. A poeira acalma passado uns minutos e começa a desparecer lentamente em direção ao céu.

O autocarro sai do abrigo e vai para a estrada, como não vê nenhum carro nem nenhuma pessoa por perto o motorista avança sem mais demoras.

O condutor (como tinha chegado à última paragem na sua carreira do dia) força todos os passageiros (ainda confusos) a sair de dentro da sua máquina. O motorista leva o autocarro para a estação e volta para casa. Vai o caminho todo a não pensar em nada (pensava ele), era muito para processar de uma só vez. No seu bolso a sua mão encontra as chaves que usa para destrancar o seu lar; após entrar vê a mulher que estava a alimentar a filha uns deliciosos baked beans com torrada, bacon e ovos mexidos.


- Já terminaste a tua carreira, tão cedo?


- Então, hoje houve uma espécie de tempestade de areia quentíssima.


- Qual tempestade?? 


O homem fica a pensar por uns momentos se estava completamente louco, mas não podia estar, todas as pessoas dentro do autocarro também reagiram e viram o que se passou...certo?








Fim


















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